BRS 54 Lumiar: Uva que Está Revolucionando o Vale do São Francisco.

BRS 54 Lumiar: Uva que Está Revolucionando o Vale do São Francisco.

A viticultura brasileira tem passado por uma transformação significativa nos últimos anos, consolidando o país como um dos principais produtores mundiais de frutas. Em maio de 2025, a Embrapa Uva e Vinho lançou a Circular Técnica 169, apresentando a cultivar ‘BRS 54 Lumiar’, uma nova variedade de uva branca apirênica desenvolvida especialmente para o polo vitícola do Vale do Submédio do São Francisco (VSF), abrangendo as cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Esta publicação detalha o processo de desenvolvimento, as características agronômicas e comerciais, além de oferecer um guia prático de manejo para produtores, destacando o potencial dessa cultivar para atender às demandas de mercados nacionais e internacionais. Com um foco em sabor especial, ausência de sementes e facilidade de manejo, a ‘BRS 54 Lumiar’ representa um marco no esforço contínuo da Embrapa para adaptar a viticultura às condições tropicais e semiáridas do Brasil.

Contexto da Viticultura Brasileira e o Papel do Vale do São Francisco

O Brasil ocupa a terceira posição entre os maiores produtores mundiais de frutas, com uma produção de 41,4 milhões de toneladas em 2022, conforme dados de Kist e Belling (2023). Dentro desse cenário, a uva destaca-se como o quarto fruto mais relevante em termos de valor de produção e exportação, beneficiada pelo aumento da demanda por alimentos saudáveis após a pandemia de COVID-19. Esse interesse global impulsionou o crescimento da viticultura, especialmente em regiões como o Sul e o Sudeste, tradicionalmente associadas à produção sazonal no segundo semestre. No entanto, o desenvolvimento de cultivares adaptadas a climas tropicais, aliado a inovações em práticas de cultivo, permitiu a produção de uvas ao longo de todo o ano, transformando o setor em um exemplo de sucesso tecnológico.

O polo vitícola do Vale do Submédio do São Francisco emergiu como o principal centro de produção e exportação de uvas de mesa no Brasil. Localizado na região semiárida do Nordeste, o VSF aproveita sistemas de irrigação avançados para realizar até 2,4 ciclos vegetativos anuais, possibilitando colheitas contínuas em qualquer período do ano. Essa flexibilidade é um diferencial competitivo, especialmente em um mercado global que valoriza a disponibilidade constante de produtos frescos. A região, que abrange Petrolina e Juazeiro, tornou-se sinônimo de inovação na viticultura tropical, respondendo por uma fatia significativa das exportações brasileiras de uvas.

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Evolução da Matriz Produtiva e Desafios Históricos

Até recentemente, a produção de uvas frescas no Brasil era sazonal, concentrada entre os meses de agosto e dezembro, devido às condições climáticas das regiões Sul e Sudeste. A introdução de cultivares adaptadas ao clima tropical, como as desenvolvidas pela Embrapa, mudou esse panorama, permitindo colheitas durante todo o ano. No VSF, essa adaptação foi ainda mais marcante, com o uso de irrigação transformando a viticultura em uma atividade economicamente viável e sustentável.

Historicamente, as cultivares tradicionais de uvas finas com sementes, como Itália e suas mutações (Ruby, Benitaka e Brasil), dominavam o mercado. No entanto, desde meados dos anos 1990, a matriz produtiva começou a se transformar com a substituição dessas variedades por cultivares apirênicas (sem sementes), mais alinhadas às preferências dos consumidores. No VSF, a busca por mais de uma safra anual levou à introdução de variedades internacionais como Superior Seedless, Crimson Seedless e Thompson Seedless. Apesar de seu apelo inicial, essas cultivares apresentaram limitações significativas, incluindo sensibilidade a doenças fúngicas (como míldio), rachaduras de bagas durante períodos chuvosos e baixa resistência a condições adversas, o que aumentava os custos de produção e comprometia a competitividade.

BRS 54 Lumiar

O Programa “Uvas do Brasil” e o Desenvolvimento da ‘BRS 54 Lumiar’

Diante desses desafios, o Programa de Melhoramento Genético “Uvas do Brasil”, conduzido pela Embrapa Uva e Vinho, concentrou-se no desenvolvimento de cultivares adaptadas às condições ambientais brasileiras. Esse esforço resultou em variedades consolidadas como BRS Vitória, BRS Isis, BRS Núbia e BRS Melodia, que se destacam por sua resistência a doenças e capacidade de suportar múltiplos ciclos produtivos. A ‘BRS 54 Lumiar’ é a mais recente adição a esse portfólio, projetada para atender às exigências crescentes do mercado por uvas brancas apirênicas de alta qualidade.

A origem da ‘BRS 54 Lumiar’ remonta a 2010, quando foi realizado o cruzamento entre ‘BRS Isis’ e ‘CNPUV 885-269’ na Estação Experimental de Viticultura Tropical (EVT), em Jales (SP). Deste cruzamento, foram obtidos 405 primórdios de sementes e 137 embriões, dos quais 61 plantas foram resgatadas e aclimatadas. Em 2012, essas plantas foram enxertadas no porta-enxerto ‘IAC 572’ para avaliação no campo de híbridos. A primeira produção ocorreu em 2013, e a planta selecionada, codificada como ‘CNPUV 1421-22’, foi escolhida por suas características promissoras, incluindo bagas apirênicas com traços rudimentares de sementes minúsculas, forma elipsoide, textura firme e sabor especial.

A seleção foi posteriormente multiplicada em campos de avaliação em Jales (SP) e Bento Gonçalves (RS), onde foram testadas diferentes condições de cultivo, como sistema convencional e protegido. Em 2019, unidades de validação foram implantadas no VSF, envolvendo 12 empresas em municípios como Petrolina, Juazeiro, Curaçá e Casa Nova. Esses testes confirmaram a adaptação da cultivar ao clima semiárido, com ciclo precoce (100-115 dias após a poda) e boa conformação de cachos, embora tenha mostrado sensibilidade a chuvas durante a maturação.

Características Agronômicas e Comerciais da ‘BRS 54 Lumiar’

A ‘BRS 54 Lumiar’ é uma cultivar de vigor médio, com vegetação semiaberta e fertilidade de gemas moderada em varas (0,8 a 1,0 cacho por broto a partir da sexta gema), mas baixa nos esporões. Suas bagas são grandes (18 x 31 mm), de cor verde-amarelada, com peso médio de 7,5 g, textura moderadamente firme e sabor especial, sem adstringência na película. Os cachos têm massa média de 300-450 g, formato cônico-alado e compacidade intermediária, o que reduz a necessidade de raleio manual.

Em termos de composição química, as uvas apresentam teores de sólidos solúveis totais (SST) entre 17 e 20 °Brix, acidez titulável (AT) de 0,50-0,70% de ácido tartárico e pH de 3,48 a 3,99, dependendo das condições de cultivo. Análises de compostos funcionais revelaram catequina (0,22 μg mg⁻¹), resveratrol (0,01 μg mg⁻¹) e ácido clorogênico (0,01 μg mg⁻¹), contribuindo para os benefícios à saúde associados ao consumo de uvas. A cultivar também oferece bom potencial de armazenamento (até 40 dias em refrigeração a 0 °C e 90% de umidade relativa), com resistência a manchas na película (até 5% em condições ideais).

No entanto, a ‘BRS 54 Lumiar’ apresenta algumas limitações. Ela é suscetível a míldio, cancro bacteriano e alternariose, exigindo manejo fitossanitário rigoroso. Além disso, chuvas durante a maturação podem causar rachaduras de bagas, e colheitas tardias ou exposição direta ao sol podem resultar em coloração verde-amarelada intensa, afetando a aceitação comercial. Testes na Serra Gaúcha mostraram abortamento intenso e baixa produtividade, levando à recomendação exclusiva para o VSF.

Manejo Recomendado para a ‘BRS 54 Lumiar’

O manejo da ‘BRS 54 Lumiar’ no VSF foi otimizado para maximizar sua produtividade (50-60 toneladas por hectare ao ano) e qualidade comercial. Abaixo estão as principais práticas recomendadas:

  • Implantação do Vinhedo: A cultivar requer espaçamento adensado (1,50 x 3,50 m, ~1.900 plantas/ha) em sistemas “latada” ou “Y”, devido ao vigor intermediário. A formação de plantas com varas de 6-7 gemas é essencial para compensar a baixa fertilidade basal.
  • Poda e Quebra de Dormência: Podas longas (5-8 gemas) aumentam a fertilidade (acima de 0,80 cacho por broto). Para quebrar a dormência, aplica-se etefom (2,6 L/ha) antes da poda, seguido de cianamida hidrogenada (1,30-2,34% v/v), ajustada à temperatura mínima (abaixo ou acima de 18 °C).
  • Manejo de Cachos: O uso de ácido giberélico (GA3) em três etapas (1 g/ha na brotação, 2 g/ha com bagas de 2-3 mm, 5-7 g/ha em estágios posteriores) alonga cachos e bagas. Despontar ramos (23-26 dias após a poda) e raleio leve (65-70 dias) melhoram a compacidade e fixação de frutos.
  • Proteção Contra Chuvas: Rachaduras de bagas no período chuvoso requerem monitoramento e, em casos extremos, o uso de cobertura plástica.
  • Colheita: Realizar a colheita entre 100-105 dias após a poda, com SST de 18 °Brix e AT de 0,50-0,60%, alcançando uma relação SS/AT de 28-36 para o melhor sabor.
  • Pós-Colheita: Resfriamento rápido (4-6 horas a 0 °C e 90% UR) e embalagens ventiladas (saquinhos PEBD ou PET com metabissulfito) garantem conservação por até 40 dias, evitando perdas de água e escurecimento da ráquis.

Resistência a Pragas e Doenças

A ‘BRS 54 Lumiar’ exige manejo integrado de pragas, com foco em ácaros, tripes, cochonilhas e moscas-das-frutas. Para o míldio, a prevenção é crucial, com monitoramento frequente e aplicação de fungicidas protetores ou sistêmicos durante a floração e maturação. Coberturas plásticas e boa ventilação ajudam a reduzir a incidência. O cancro bacteriano requer podas fora de períodos chuvosos, remoção de restos infectados e desinfecção de ferramentas com hipoclorito de sódio. A alternariose é controlada com fungicidas registrados, enquanto a tolerância a antracnose e podridão por Botrytis é um ponto positivo.

Benefícios e Limitações da Cultivar

A ‘BRS 54 Lumiar’ oferece vantagens significativas: sabor especial, textura crocante, bagas grandes e manejo simplificado, reduzindo a mão de obra em comparação com cultivares como BRS Vitória e BRS Isis. Seu ciclo precoce permite múltiplas safras, atendendo à demanda por uvas brancas no mercado interno e externo. No entanto, sua suscetibilidade a doenças e rachaduras em chuvas exige cuidados adicionais. Na Serra Gaúcha, o abortamento e a baixa produtividade a tornam inviável, restringindo sua recomendação ao VSF.

Disponibilidade e Sanidade do Material Propagativo

O material da ‘BRS 54 Lumiar’ é fornecido por viveiristas licenciados pela Embrapa, garantindo sanidade através de testes RT-qPCR para vírus como GLRaV-3, GVA e GVB. Plantas matrizes são selecionadas em Bento Gonçalves, e a compra deve ser feita apenas com viveiristas registrados no Renasem. A lista atualizada está disponível no portal da Embrapa Uva e Vinho (https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/viveiristas-licenciados). No Sul, mudas “raiz nua” são entregues entre junho e agosto, enquanto no Nordeste, mudas em tubetes podem ser plantadas em períodos mais flexíveis.

Impacto Econômico e Social

A introdução da ‘BRS 54 Lumiar’ fortalece a economia do VSF, uma região essencial para a exportação de uvas. Com uma produtividade anual de 48-60 toneladas por hectare, a cultivar pode aumentar a renda de produtores e reduzir custos operacionais devido ao manejo simplificado. Além disso, o apoio da Embrapa a parcerias com empresas locais (ex.: Agrivale, Expofrut) fomenta o desenvolvimento regional, promovendo a sustentabilidade da viticultura tropical.

Perspectivas Futuras

A ‘BRS 54 Lumiar’ é um passo adiante na busca por cultivares resilientes e competitivas. Futuros testes em outras regiões do centro-sul do Brasil podem expandir seu uso, desde que validados agronomicamente. Investimentos em pesquisa para aumentar a resistência a chuvas e otimizar o manejo em sistemas “Y” ou “latada” podem elevar ainda mais seu potencial. A Embrapa continua a liderar essa inovação, apoiada por projetos como “Desenvolvimento de novas cultivares para a competitividade e sustentabilidade da vitivinicultura brasileira”.

Conclusão

A ‘BRS 54 Lumiar’ representa uma evolução na viticultura brasileira, oferecendo uma alternativa de alta qualidade para o VSF. Seu sabor especial, facilidade de manejo e adaptação ao clima semiárido a posicionam como uma solução para os desafios enfrentados por produtores. Apesar de limitações como suscetibilidade a doenças e rachaduras, o manejo adequado pode maximizar seus benefícios, consolidando o VSF como um polo de excelência na produção de uvas apirênicas. Com o suporte da Embrapa e a colaboração de viveiristas e viticultores, essa cultivar tem o potencial de transformar o mercado de uvas frescas no Brasil e além.

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FAQ – BRS 54 Lumiar

1. O que é a ‘BRS 54 Lumiar’?
A ‘BRS 54 Lumiar’ é uma nova cultivar de uva branca apirênica (sem sementes) desenvolvida pela Embrapa Uva e Vinho, recomendada para o Vale do Submédio do São Francisco (VSF). Destaca-se pelo sabor especial, bagas grandes e manejo simplificado, sendo ideal para o clima semiárido.

2. Em que região ela pode ser cultivada?
A cultivar é recomendada exclusivamente para o polo vitícola do VSF, nas cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Testes na Serra Gaúcha indicaram baixa adaptação devido a abortamento de bagas e rachaduras.

3. Quais são as principais características da ‘BRS 54 Lumiar’?
Possui bagas verde-amareladas, elipsoides (18 x 31 mm), com sólidos solúveis totais (SST) de 17-20 °Brix e acidez titulável (AT) de 0,50-0,70%. Os cachos têm massa de 300-450 g, com textura firme e ausência de adstringência.

4. Qual é a produtividade esperada?
Em condições ideais de manejo no VSF, a produtividade pode chegar a 50-60 toneladas por hectare ao ano, com 2,4 safras, considerando um repouso de 50 dias entre ciclos.

5. Como realizar o manejo da cultivar?
Inclui espaçamento adensado (1,50 x 3,50 m), podas longas (6-8 gemas), uso de etefom e cianamida hidrogenada para quebra de dormência, e ácido giberélico (GA3) para alongar cachos. Despontar ramos e raleio leve também são recomendados.

6. Quais são as principais doenças a que ela é suscetível?
A cultivar é suscetível a míldio, cancro bacteriano e alternariose, exigindo manejo fitossanitário preventivo, como fungicidas e boa ventilação. Tolera antracnose e podridão por Botrytis.

7. O que fazer para evitar rachaduras de bagas?
Rachaduras ocorrem em períodos chuvosos. Monitore a maturação e, se possível, use coberturas plásticas. Colheitas pontuais (100-105 dias após a poda) ajudam a minimizar o problema.

8. Como obter mudas da ‘BRS 54 Lumiar’?
Mudas são fornecidas por viveiristas licenciados pela Embrapa, com sanidade garantida por testes RT-qPCR. Consulte a lista atualizada no portal da Embrapa Uva e Vinho (https://www.embrapa.br/uva-e-vinho/viveiristas-licenciados).

9. Qual é o potencial de conservação pós-colheita?
Pode ser conservada por até 40 dias a 0 °C e 90% de umidade relativa, usando embalagens ventiladas com metabissulfito, desde que resfriada rapidamente (4-6 horas).

10. Por que a ‘BRS 54 Lumiar’ é considerada especial?
Seu sabor único, textura crocante, bagas grandes e manejo fácil a destacam no mercado. Contém compostos funcionais como catequina e resveratrol, valorizando-a como alimento saudável.

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